diário de roacutan

Quando eu peguei aquelas duas folhas cheias de texto de cima a baixo para preencher e assinar, dei um longo suspiro e pensei: “vamos lá!”. Essas duas palavrinhas, “vamos lá”, a gente diz muito no dia a dia antes de começar algo complicado, complexo, confuso, que vai exigir o máximo de você.

Ontem, finalizei a terceira caixa do tratamento de isotretinoína, o famoso antibiótico para acne grave, mais conhecido como Roacutan. Segundo a dermatologista, serão entre 8 e 10 meses de medicação diária (por enquanto, estou tomando um comprimido ao dia e espero que assim continue até o final).

Lá na primeira consulta, depois de ter aquelas duas folhas em mãos com dizeres pesadíssimos e de escutar a dermatologista falando “está disposta?, vamos lá?”, me vi caminhando a passos curtos numa loooonga estrada. Mas eu conseguia ver o final dela com muito esforço, cerrando os olhos para poder enxergar melhor.

Ainda na consulta médica, li por alto a papelada que eu deveria, mais tarde, levar à farmácia junto com a receita do remédio. Lembro de passar os olhos em algumas palavras-chave: gravidez, feto, deformidade, efeitos colaterais, ansiedade, depressão, crises de choro, excesso de sono, falta de sono, sentimentos estranhos… Isso assusta, né? E a estrada longa estava lá, com o seu fim bem longe.

Cheguei ao trabalho, um pouco atordoada (mas esperançosa), bati o ponto, entrei na minha sala e sentei na minha cadeira, com os papeis ainda em mãos. Parei para lê-los com calma (o dia no trabalho estava tranquilo). “É como uma bula de remédio, não se assusta”, lembrei da médica falando, “você vai tirar de letra”. É o que eu mais estou tentando fazer, tirar de letra.

Eu li todos os papeis com muita calma e cuidado, já sabendo de tudo aquilo. Já sabendo como o remédio age no organismo, já sabendo dos efeitos colaterais, já sabendo como fazer para comprá-lo na farmácia, já sabendo as precauções que eu devo ter em vários sentidos, já sabendo de tudo isso. É claro que eu já sei de tudo isso porque é claro que eu pesquisei tudo isso antes de aceitar que meu caso é de uma acne tão inflamada que só esse remédio vai conseguir tratar. É claro. Eu me chamo Fernanda Maciel e sou virginiana (e adoro ser virginiana e saber que os virginianos gostam de se precaver e estar um passo à frente em certas situações – em certas situações, situações como essa).

É claro.

E mesmo lendo todos aqueles parágrafos numerados de 1 até não sei quanto, nas duas folhas, frente e verso, pensei na hora: “vou passar ilesa por tudo isso, meus efeitos colaterais serão puramente físicos, apenas ressecamento de pele e lábios”.

É claro.

Ledo engano.

Ontem, finalizei a terceira caixa de remédio, o terceiro mês de isotretinoína. E tem sido um baita desafio passar por esse tratamento. Já até falei na terapia que achava que eu ia passar ilesa pelos efeitos colaterais. Vai ser baba. Aham!

Já no terceiro mês, tenho sentido cada vez mais, com mais intensidade, o ressecamento dos lábios e nos olhos também, em certos dias. E isso piora um pouco devido ao clima estar bem seco e frio na minha cidade.

Quanto aos outros efeitos, alguns vieram, e vieram com força: cansaço, tristeza, crises de choro, mau humor, ansiedade e crises de ansiedade, excesso de sono, perda de peso, ganho de peso, falta de energia, vontade de se isolar, apatia… Pelo menos, a vontade de fazer pilates continua, salvo em alguns dias que a preguiça é tanta que eu vou me arrastando.

Em contrapartida, o terceiro mês veio com uma pequena dose de alegria: a acne está melhorando, a passos curtos, mas está. Aquelas espinhas super inflamadas lá do começo já não aparecem tanto, a não ser próximo do período menstrual. A dor que eu sentia só de tocar no rosto quando eu o lavava e secava, passou. Isso é uma glória, pois eu chegava a chorar de dor passando a toalha após o banho (isso porque eu passava com extrema delicadeza).

Algumas espinhas têm ressecado tanto, que criam uma casquinha e, vira e mexe, essa casquinha sai antes de cicatrizar (ou eu mesma acabo tirando pela ansiedade), e aí o resultado é sangramento. Vez ou outra acordo com mancha no travesseiro, após o banho a toalha acaba ficando suja ou, de repente, olho para minha mão e está com um pouquinho de sangue. Quando pego o espelhinho para ver o rosto, descubro uma dita cuja estourada.

Faz parte.

Faz
parte.

Sigo. Rumo ao 4º mês.

(burlando SEO,
algoritmo,
e o raio que o parta,
yoast que lute,
google que lute,
apenas exercitando a escrita

no meu canto)

Escrito por

Feufa Maciel

Oi, meu nome é Fernanda, mas pode me chamar de Feufa. Sou publicitária, web writer, virginiana, amo viajar, fotografias, shows e gatos. Criei o Vem Pra Ver para compartilhar dicas das coisas que eu mais gosto com vocês. Quer saber mais sobre mim? Acesse aqui e confira!